12/03/2020 às 17h39min - Atualizada em 12/03/2020 às 17h39min

A Figura da Mulher no Teatro

A dramaturgia brasileira agradece

Fernando Matos

Fernando Matos

Fernando Matos é ator, autor, diretor teatral e professor. Sua paixão por teatro surgiu desde a infância.

Texto de Fernando Matos
Foto de Alexandre Moraes
   
Na coluna deste mês gostaria de destacar sobre a influência do teatro no mundo, comentarei sobre um caso específico que aconteceu na Itália: o surgimento da Commedia Dell’Arte, um intenso processo de profissionalização de atores, que trouxe, além de diversas novidades, a presença da mulher nos palcos. Por muitos anos, apenas homens eram permitidos em espetáculos, e caso algum personagem feminino precisasse ser interpretado, eles usavam as suas famosas máscaras.
 
Só a partir do século XVII que as mulheres, finalmente, começaram a ganhar o seu devido espaço, inicialmente na Inglaterra e na França, quando Therese du Parc (posteriormente conhecida como La Champmesle) saiu do grupo de Moliére para integrar o elenco das peças de Jean Racine, ganhando a personagem principal de “Phédre”, tornando-se um dos principais rostos da chamada “Commedie Française” e o primeiro nome feminino no registro da história do teatro.
 
No mesmo século, aqui no Brasil, a rainha Maria I de Portugal (conhecida como Maria Louca) promulgou a lei que proibia os papéis femininos nos teatros dos colégios, apenas com a exceção às Santas Virgens, evitando que a juventude tivesse paixões precoces ou que fosse excitada ao devaneio. As freiras, índias e mestiças representavam em procissões e autos (composições teatrais de linguagem simples) acompanhadas de músicas e danças.
 
Em 1794, depois de um longo período de distanciamento dos nomes femininos dos palcos brasileiros, Pedro Pereira Bragança locou um pequeno teatro (conhecido como primeiro teatro de Porto Alegre). Mesmo tendo como representante Maria Benedita de Queiros Montenegro e o lucro com o sucesso dos primeiros espetáculos, o Teatro fechou suas portas com a falta de púbico.
 
As coisas só mudaram com a vinda de D. João VI para o Brasil, lotando os teatros de atrizes europeias e plateia, claro. Posteriormente, outros nomes femininos marcaram história nos palcos brasileiros, como a Eugênia Câmara (atriz, poetiza, tradutora e autora dramática), Adelaide Amaral (dramaturga), Estela Sezefreda (estrela do Teatro da escola romântica no Brasil) e Ismênia dos Santos (matriarca do teatro brasileiro). Sem deixar de lembrar das duas grandes personalidades do século XX/XXI: Maria Clara Machado para o teatro infantil e Chiquinha Gonzaga na área de composições para teatro.
 
Dentre tantas personalidades, não poderíamos deixar de homenagear as nossas talentosíssimas atrizes paraenses, Rosamaria Murtinho, Dirá Paes,
Irlene Rocha, Natal Silva, Wlad Lima, Luciana Malcher, a saudosa Mara Rúbia, dentre tantas que seria necessário uma página inteira para listarmos nesta homenagem.
 
A atriz, crítica e diretora teatral brasileira Luiza Barreto Leite disse certa vez que são nas festas folclóricas que se encontram as tradições do nosso teatro e onde as mulheres exercem uma grande influência, independente de seus feitos ou religião. E esse é o retrato da mulher na história: força, dedicação, perseverança, talento e, claro, a influência. Elas trouxeram grandes feitos para a história do teatro no mundo, quebraram paradigmas e, mesmo oprimidas pela própria classe, nunca abaixaram a cabeça, exceto no agradecimento ao público.
 
No último dia 05, perdemos Maria Sylvia Ferreira da Silva Nunes, que foi diretora de teatro e professora paraense. Ela recebeu o título de professora emérita da Universidade Federal do Pará - UFPa e na década de 60 dirigiu a primeira montagem brasileira de Morte e Vida Severina, inspirada na obra de João Cabral de Melo Neto, e que inovou a linguagem teatral em Belém.

Em 2002, a Professora recebeu do Governo do Estado uma belíssima homenagem ao ter seu nome dado ao Teatro no complexo cultural Estação das Docas, em Belém.
Familiares, amigos e admiradores se despediram da dramaturga Maria Sylvia Nunes, que morreu aos 90 anos em Belém.
Pelo grandioso legado deixado a todos nós, prestamos aqui as nossas homenagens ao mesmo tempo em que registramos o nosso profundo pesar.
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