11/08/2023 às 09h01min - Atualizada em 11/08/2023 às 09h01min

Projeto realizado pela Sectet em comunidade quilombola debate moda afro-brasileira

Iniciativa marca a continuidade da parceria firmada entre a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional (Setect) e a UFPA

com edição da Redação Belem.com.br
Agência Pará
Divulgação
O Projeto de Pesquisa "Inovação Territorial para Jovens e Adultos da Comunidade Remanescente do Quilombo do Igarapé Preto", em Oeiras do Pará, realiza entre 14 e 18 de agosto, mais um ciclo de capacitação para jovens e adultos do território sobre a Moda Afro-brasileira, o vestir como resistência e combate à discriminação racial.

A iniciativa marca a continuidade do Projeto que é uma parceria firmada entre a a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Pará (Sectet), a Comissão de Regularização da Universidade Federal do Pará (CRF-UFPA)  e as famílias quilombolas, além do suporte operacional da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp).

Para a mestre em Comunicação, Linguagem e Cultura pela Universidade da Amazônia (Unama) e especialista em Língua Portuguesa e Literatura em Sala e Aula, Ysa Almeida Brasil, responsável pela capacitação no quilombo, o objetivo deste novo ciclo “é fornecer aos participantes um conhecimento sobre os fundamentos da moda, desde o design até a produção, preparando-os para atuar de forma criativa e profissional no quilombo e no mercado”, detalha.

Os conteúdos da capacitação, segundo ela, estão estruturados em cinco encontros de quatro horas de aula por dia, onde serão debatidas as temáticas sobre  Fundamentos do Design de Moda;  Expressão Criativa e Design; Processo de Criação e Produção; Noções de Editorial e apresentação do material produzido pelos participantes e a vinculação com as mídias sociais.

“Quando somamos a teoria e a prática para fazer a moda afro-brasileira, agregamos valor, conhecimento e autonomia para os participantes do território”, assinala Ysa.

O Projeto de Pesquisa se fundamenta no tripé acadêmico de ensino, pesquisa e extensão. “No momento em que o Brasil e o estado do Pará realizam os Diálogos Amazônicos para debater as potencialidades latino-americanas rumo à realização da COP-30, o foco da capacitação sobre moda afro-brasileira promove o desenvolvimento humano e social equitativo da comunidade, por meio das famílias do território que desenvolvem as suas práticas culturais agroalimentares”, informa a integrante da CRF-UFPA, Kelly Alvino, .

Para ela, a comunidade Igarapé Preto tem a vocação para integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção local como um modelo de negócio inovador de base comunitária. “Este cenário fortalece a identidade étnica como elemento de reafirmação,  de pertencimento e de combate à discriminação e à violência racial brasileira”, reflete Kelly.

Estatísticas

Por sua vez, o engenheiro pesquisador e Coordenador do Projeto, Renato das Neves, ressalta que debater a moda afrodescendente com os jovens e adultos é colocar em prática uma metodologia e uma ação educacional que estimula a comunidade a combater o racismo estrutural impregnado de violência na sociedade brasileira.

Os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD C), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que, em 2020, foram mortos 11.939 homens negros com armas de fogo nas regiões metropolitanas e capitais brasileira. No mesmo período, foram 2.558 homens não negros assassinados, compara o pesquisador.

Já os dados da Anistia Internacional mostram o crescimento da violência contra a mulher. “Quatro mulheres foram mortas por dia no Brasil no primeiro semestre de 2022. Foram 699 feminicídios só até a metade do ano. Um aumento de mais de 3% em relação ao mesmo período de 2021. E quase 11% a mais do que no primeiro semestre de 2019”, assevera Renato. 

O IBGE divulgou recentemente Censo Quilombola 2022, revelando um retrato do país desconhecido. “Um Brasil com 1.327.802 de quilombolas, sendo que apenas 4,3% desse total vivem em territórios titulados, além das marcas profundas deixadas pelas diásporas. A Amazônia também é negra: mais de 30% das e dos quilombolas residem em municípios da Amazônia Legal”, assevera Renato.

Neste contexto, o pesquisador assinala que debater a temática  sobre a moda afro-brasileira é mais uma ferramenta que se soma às capacitações realizadas no quilombo sobre levantamento da cartografia social, turismo comunitário, formação em hospedagem familiar e as estratégias de abordagens de produtos turísticos, além da importância da prática economia circular, da força das mídias digitais e da formação das rotas e guias turísticos, entre outras áreas estruturantes para a sustentabilidade da comunidade.

Mais capacitações

Renato ressalta, ainda, que é fundamental desconstruir a visão europeia do mundo e resgatar a ancestralidade da cultura e da moda africana como instrumentos de resistência na luta contra o racismo estrutural. “Buscamos, junto com a comunidade, fortalecer a identidade étnica como elemento de reafirmação e pertencimento ao território, assim como  a consolidação de uma base de economia solidária. Nas próximas capacitações abordaremos os temas Marketing  Digital e a Construção de um plano de negócio para ser implementado pela comunidade para que ela caminhe com a sua própria autonomia, além da realização de uma feira de encerramento do Projeto no Quilombo”, antecipa o pesquisador.

Serviço

A capacitação será realizada de 14 a 18 de agosto, das 18  às 22 horas, na Escola Municipal Zumbi dos Palmares, localizada na BR- 422.
 

 

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