21/10/2019 às 09h59min - Atualizada em 21/10/2019 às 09h59min

Josy Brito: Conheça a história da mãe do prefeito de Tucuruí

Em entrevista, ela fala sobre os momentos difíceis por que passou, incluindo a prisão

Benigna Soares
Benigna Soares
Josy, a segunda da esquerda para a direita, acredita que a família foi vítima de uma grande esquema de manipulações (Foto: arquivo pessoal)

Tucuruí é um município muito peculiar, cheio de histórias e estórias, dominado por conflitos políticos e ideológicos, a maioria travados nos ambientes virtuais. Foi nesse cenário de “terra arrasada” que eu conheci Josenilde Silva Brito, 56 anos, nordestina que nasceu em Pinheiro, no Maranhão, e aos 12 anos de idade foi dada pela própria família para trabalhar de empregada doméstica para uma família de fazendeiros do Pará. Chegou à Tucuruí ainda muito jovem, com três filhos ainda pequenos (Artur, Roberto e Lucas). Há dois anos teve a prisão temporária decretada, 90 dias depois que o prefeito de Tucuruí, Jones William da Silva Galvão, foi assassinado, em uma emboscada no próprio município, em julho de 2017.

Desde a morte do então prefeito Josy Brito, como é conhecida a empresária do ramo de logística de transportes e locação de máquinas e equipamentos, teve a vida totalmente destruída por um grande esquema de manipulações que a colocaram como suspeita de ter mandado matar Jones para que o vice-prefeito, Artur de Jesus Brito, filho de Josy, assumisse o mandato municipal.

O mandado de prisão não justificava a razão de Josy ter sido levada para uma cadeia feminina em Belém, onde permaneceu por 45 dias e só foi ouvida pela polícia quando seus advogados fizeram essa exigência judicialmente. Desde que foi solta Josy nunca mais foi chamada para depor. E assim como não teve a oportunidade ao amplo e contraditório, também nunca foi procurada pela imprensa para se defender de acusações, calúnias, difamações e injúrias que sofreu na ocasião de sua prisão e ainda sofre, pois o que chamo de “terra arrasada” é um ambiente virtual marcado por fake news e manipulações políticas que parecem nunca ter fim, capazes de destruir qualquer reputação.

Nesta entrevista exclusiva, pela primeira vez, Josy Brito, resolveu falar sobre o caso e contar a história que ninguém contou: não tem nenhum envolvimento com o assassinato do prefeito de Tucuruí. Confira nossa entrevista:

Quem é Josy Brito?
Eu nasci em Pinheiro, no interior do Maranhão, e por ter nascido em uma família muito humilde aos 12 anos fui dada pelos meus familiares para uma família de fazendeiros de Paragominas.  Lá eu fazia trabalhos domésticos, sem remuneração. Entre as minhas tarefas estava a de cozinhar para 30 peões que trabalhavam na fazenda. Era um trabalho bem pesado para uma menina com a minha idade. Mas, era o que a vida me reservava diante da pobreza do lugar onde nasci e da intenção da minha família de me ver estudar e ter uma vida melhor.

Quando sua história começou a mudar?
Aos 18 anos eu me casei com um vaqueiro que trabalhava de peão na fazenda, o Quirino Brito, também de Pinheiro. Eu vivi com ele por 11 anos. De Paragominas nós fomos morar em Ulianópolis e tivemos nossos três filhos (Artur de Jesus Brito, Wesley Roberto de Jesus Brito e Lucas Michael Silva Brito). Mas, meu ex-marido era um homem muito agressivo, que por causa do alcoolismo tornou a convivência insuportável para nós dois e perigosa para nossos filhos, que tinham que conviver em um ambiente hostil. Por isso eu peguei os meus filhos, arrumei só uma “trouxa” já que nós não tínhamos quase nada mesmo e fui morar na casa de uma amiga.

O que lhe trouxe para Tucuruí?
Nove anos depois que me separei eu me casei com Roque Bispo dos Santos, com quem não tive filhos, mas ele me ajudou a criar os meus. Roque veio primeiro para Tucuruí, trabalhar como mecânico e soldador em uma serraria. Eu vim quatro meses depois. A gente morava em um barraquinho de lona, em um pequeno terreno que compramos no KM 1 da Transcametá. Era um lugar simples, sem nada, mas servia de abrigo para nós e local de trabalho para Roque. E fui trabalhar na Cikel, empresa de madeira de exportação. Trabalhei por dois anos passando 20 dias lá, em Goianésia do Pará, e 10 aqui com minha família. Era uma rotina difícil, mas eu sempre fui muito dedicada ao meu trabalho e queria uma vida melhor para a minha família. Foi assim que conseguimos mandar o Artuur, meu primeiro filho, para estudar Administração de Empresas em Belém.

É preciso que as pessoas saibam como a sua família saiu de uma situação de extrema pobreza para uma das mais bem-sucedidas de Tucuruí. Como aconteceu?
Nós trabalhamos muito para mudar de vida. Além de colocar nossos filhos para estudar nós também tivemos que buscar conhecimento. Eu ganhei experiência trabalhando na Cikel e a gente percebeu que esse ramo do Roque, como soldador e mecânico era muito bom no inverno já que os caminhões que transportavam a madeira e outros produtos quebravam mais nessa época do ano. Foi então que eu pesquisei como poderíamos contrair um empréstimo para investir nesse ramo e consegui em 2004 um financiamento do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), no Banco da Amazônia, de R$ 320 mil. Com esse recurso conseguimos ampliar nosso terreno e montar a Autopeças “Fé em Deus Empreendimentos (Oficina Fé em Deus). Quem conhece esta região sabe que no passado o ramo das madeireiras era muito rentável e gerava lucro também para quem prestava serviços indiretamente, como nós fazíamos. Nossa primeira decisão foi trabalhar 24 horas por dia. Todos os madeireiros eram nossos clientes e isso expandiu nosso negócio.

Esse apoio do FNO foi o primeiro passo para ampliar os negócios. Mas a família fez novos investimentos que justifiquem o crescimento financeiro?
Sim. Dez anos depois, ou seja, em 2014, depois de já ter pago ao Banco da Amazônia, fizemos um novo financiamento junto ao FNO, agora de R$ 2 milhões e 800 mil, que com o capital de giro de R$ 800 mil, ficou em torno de R$ 3 milhões e 400 mil. Com esse recurso montamos uma nova estrutura, com máquinas mais modernas e a Fé em Deus deixou de ser só uma oficina para caminhões. Até porque a exploração madeireira deixou de ser o eixo principal da economia de Tucuruí e desta região, que passou a investir mais na área industrial. Hoje a Fé em Deus Empreendimentos é uma empresa de Logística e Transporte, Locação de Máquinas e Equipamentos e Movimentação de Cargas. Também atuamos com fabricação de estruturas metálicas, prestação de serviços na área de construção civil, mecânica industrial e usinagem em geral, atendendo Tucuruí e outros municípios do Pará. Muitas empresas adquiriam nossos serviços, entre elas a Dow Corning, empresa de cilício metálico com a qual tínhamos um contrato de trabalho que passava de R$ 300 mil por mês, algo em torno de R$ 36 milhões e 600 mil ao ano. O trabalho sempre foi o que nos impulsionou na vida. Nada se constrói da noite para o dia e nós trabalhos muito para chegar até aqui, gerando emprego e renda nesta cidade.

Como se deu o envolvimento dos seus filhos nos negócios e nas finanças da família?
Nós priorizamos os estudos para nossos filhos e isso trouxe bons resultados quando eles se formaram. Artur voltou de Belém formado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Pará (UFPA), preparado para compartilhar esses conhecimentos. Ele assumiu a Gerência de Contratos e Negócios e captou novos serviços para a empresa. Lucas se formou em Gestão Ambiental e cuidava dessa parte que é importante para o desenvolvimento sustentável da empresa e dos clientes atendidos por nosso grupo, que hoje tem cerca de 180 colaboradores. Roberto também trouxe seus conhecimentos para a empresa e Roque tomou a frente do trabalho prático com os demais funcionários.

Como seu filho Artur foi envolvido na vida política?
No começo para mim era só uma brincadeira dele. Mas, nós estávamos num momento bom financeiramente e ele tomou essa decisão. Nós resolvemos apoiá-lo naquilo que ele escolheu para ele. Artur queria trabalhar para mudar a história de Tucuruí, desenvolver projetos que beneficiassem a população desta região carente de políticas públicas. Na primeira eleição teve cerca de 700 votos e não se elegeu. Achamos que ele ia desistir, mas era o sonho dele e muita gente se aproximou dele para mantê-lo na política. Em 2014 ele decidiu ser candidato a deputado estadual e se candidatou pelo PMDB. Teve nessa eleição cerca de 4 mil votos. 

Como surgiu a relação entre Jones e Artur?
Quando começaram as pré-candidaturas para as eleições municipais Jones, que era do PT, já aparecia na frente, como candidato a ser lançado pelo PMDB. Então o Artur veio como o vice-prefeito pelo PV. Após o resultado das eleições eu deixei de acompanhar os bastidores políticos para me dedicar ao meu trabalho aqui na Fé em Deus Empreendimentos, que sempre foi e ainda é minha prioridade e do meu esposo Roque Brito.

Você foi acusada de envolvimento no assassinato do prefeito Jones. Chegou a ser presa temporariamente. Na sua opinião, por que você foi presa?
Minha prisão foi uma forma de atingir meu filho, de enfraquecê-lo politicamente. Foi parte de uma armação daqueles que mataram o Jones. Mas, sempre que lembro de toda a humilhação que passei com meus filhos, volto os meus olhos e pensamentos para o autor e consumador da minha fé, Deus, em quem firmo toda minha confiança.  Ele sempre me sustentou. Só Ele sonda o mais profundo dos meus sentimentos e sua palavra declara que “não há nada encoberto que não venha ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido” (Lucas 12:2). Por isso, não tenho dúvidas que os assassinos de Jones serão todos revelados e descobertos e vão pagar por tudo que fizeram com minha família, com a família do Jones e com a população de Tucuruí, que precisa saber a verdade.

Seu maior desejo hoje é que a justiça encontre os verdadeiros culpados da morte do prefeito Jones. Você acredita que a justiça será feita diante do que aconteceu no início das investigações?
Eu e minha família fomos submetidos a maior injustiça que o ser humano pode sofrer na face da terra. Sempre declarei e afirmei que a justiça prevalecerá. Guardo em minha memória as palavras do próprio juiz do caso que declarou: “sobre os fatos, as testemunhas quase nada sabem, apenas se limitam a repetir o que ouviram e, eventualmente, fazem juízo de valor sobre isso, o que é vedado pela objetividade que se faz necessária”. A investigação e o processo já se arrastam por mais de 2 (dois) anos e em data recente observei segundo os autos do processo que o meu nome e de meus filhos são citados por “agentes secretos da polícia militar” que sequer foram identificados ou mesmo ouvidos perante as autoridades competentes. Mesmo assim, eu sempre confiei na nossa justiça, eu e meus filhos confiamos no poder judiciário e também na justiça de Deus.
 

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