05/09/2021 às 12h00min - Atualizada em 05/09/2021 às 12h00min

Carta aos 20 anos

Beatriz Cardozo

Beatriz Cardozo

Graduando em Licenciatura em História. Pesquisadora nas áreas de Patrimônios Históricos e Culturais, História Contemporânea e Antropologia Cultural.

Beatriz Cardozo
Atualmente, vive-se a crise dos 20. (Foto: Reprodução/Wavebreakmedia)

                    

Eu gosto muito de conversar com a minha mãe sobre a fase jovem adulta dela, perguntar o que ela fazia, o que ela gostava de escutar, assistir e entre outras coisas. Nessas horas, deixo o meu lado historiadora aflorar. Observo o seu olhar de esperança sobre as manifestações a favor da democracia, das quais ela participou, após 21 anos de Ditadura Civil-Militar no Brasil. Com isso, ela enche de referências sobre o rock produzido em Brasília, carregado de críticas ao sistema.

Ela me trouxe a esse mundo no final dos anos 90, em um Brasil democrático, durante o governo do FHC (contra o qual eu tenho bastante críticas), lembrado por suas ações neoliberais e a privatização das estatais, com um conceito de “privatiza que vai gerar mais emprego e melhorar a qualidade dos serviços” - o que é uma mentira, pois existem vários exemplos de que não é bem assim que acontece (a prova disso foi o que aconteceu em Brumadinho, Minas Gerais).

Em 2019, completei os meus 20 anos, também foi a última vez que pude reunir com os meus amigos sem máscara e distanciamento, naquele período já estávamos vivendo em um governo marcado pelo fascismo e destruição dos direitos trabalhistas, mas não sabíamos que em um ano as ações poderiam virar de cabeça para baixo.

Lembrei de quando era adolescente, imaginando como seria a minha vida aos 20 anos. Na minha concepção, eu poderia estar estudando e trabalhando, teria certa independência financeira, estaria viajando, entre outros planos. Mas aqui estou, dentro de casa, sobrevivendo a dois vírus: um que vive no ar e outro que vive na Capital. Gostaria que ambos desaparecessem em um piscar de olhos.

Graças à ciência, podemos combater os dois, um com a vacina e outro com a educação da população.

Outro plano era participar do Ciência sem Fronteiras, mas que infelizmente terminou. Para quem não lembra, era um programa do Governo Federal que incentivava estudantes brasileiros a executarem pesquisas e estudos no exterior. Imagina quantos jovens foram beneficiados e ajudaram no progresso do país!

A
tualmente, vive-se a crise dos 20: não é apenas a minha pessoa, mas os meus amigos e todos que estão nessa faixa etária, que construímos planos que não deram certo por causa de um governo que prefere financiar o desconhecimento e a violência. Quantos cérebros o Brasil não está perdendo todos os dias por falta de verba? Quantas vezes a gente não se pergunta “o que estou fazendo da minha vida”? Com uma mistura de depressão, ansiedade e vontade de desistir de tudo. Cada vez mais presos ao universo das redes sociais para escapar de um Brasil que passa por fome, desemprego e morte em massa.

O recado que eu deixo é para nós não desistirmos, por mim, por você, pelos seus amigos e familiares. Crianças, jovens, adultos e idosos. Se erguemos quatro paredes é por causa da classe trabalhadora, se sabemos ler e escrever é por causa da classe trabalhadora. Olhem para as nossas mãos: são elas que movem o Brasil. Não são discursos bem construídos que vão mudar os ventos, são os nossos movimentos. Saúde, comida no prato, emprego e moradia para todos.

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