23/01/2020 às 19h30min - Atualizada em 23/01/2020 às 19h30min

Brasil é o segundo em número de casos de hanseníase no mundo

Pais registrou cerca de 30 mil casos novos por ano na última década

Agência Brasil
Com edição do belem.com.br
O tratamento é gratuito e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o território nacional (Foto: Altemar Alcântara)
    
O Brasil ocupa o segundo lugar mundial em número de casos de hanseníase, perdendo apenas para a Índia. Pesquisa feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que em 2017, enquanto o Brasil teve 26.875 casos, a Índia teve 126.164. Na última década, foram registrados cerca de 30 mil casos novos por ano no Brasil.

O pico da doença no território brasileiro foi observado em 2003, com 51.941 casos. Por isso, em 2016, o Ministério da Saúde oficializou o mês de janeiro e consolidou a cor roxa para campanhas educativas sobre a doença no país.

A coordenadora da Campanha Nacional de Hanseníase da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Sandra Durães, disse, nesta quinta-feira (23), que a hanseníase é uma doença que acomete as populações negligenciadas, com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta. Embora o Brasil esteja entre as maiores potências econômicas, ainda apresenta grandes desigualdades e muitos bolsões de pobreza em áreas periféricas.

“Isso também se demonstra pela incidência desigual no país”. O maior número de casos ocorre nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, enquanto o Sudeste e o Sul ocupam os quarto e quinto lugares, respectivamente.

Sandra Durães explicou que a hanseníase não afeta somente populações vulneráveis. Pessoas de níveis econômicos elevados também estão sujeitos a ter a doença. “Mas a maioria ocorre em populações de nível socioeconômico mais baixo”.

Características

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa causada por uma bactéria (Mycobacterium leprae) que apresenta características peculiares, afirmou a médica.

Uma delas é que todos os brasileiros, por morarem em um país endêmico, têm contato com ela ao longo da vida. “Ela tem alto poder de infectar mas, por outro lado, a maioria das pessoas é muito resistente à doença. Então, um pequeno percentual das pessoas é que pode realmente ficar doente com a hanseníase”.

Também dentro desse pequeno percentual, a apresentação clínica vai variar conforme a resistência que a pessoa tenha à doença. As pessoas mais resistentes mostram formas mais brandas. Segundo a especialista, o bacilo da hanseníase apresenta grande afinidade com dois órgãos: a pele e os nervos periféricos. O sistema nervoso periférico se refere às partes que estão fora do sistema nervoso central, isto é, fora do cérebro e da medula espinhal.

“A pessoa que tem mais resistência vai apresentar poucas lesões na pele, vai ter uma carga bacilar mais baixa, com pouco ou nenhum poder para contaminar outras pessoas e terá um tratamento mais rápido, em seis meses”. Já nas pessoas que têm menos resistência, a doença vai se apresentar de forma mais disseminada na pele, vai atingir os nervos periféricas, vai ter alta carga bacilar e maior capacidade de contaminar outras pessoas. Além disso, o tratamento é mais longo, por 12 meses.

Contaminação

A hanseníase é passada de uma pessoa que tenha uma forma transmissível da doença e não esteja em tratamento, para outra pessoa. “Essa doença é passada pela via respiratória. Respirando naquele mesmo ambiente, você tem mais risco de pegar. Geralmente em ambientes pouco ventilados e aglomerados, a pessoa tem mais risco de pegar”. Não tem a ver com higiene, esclareceu a médica.

Uma curiosidade que dificulta o controle da doença é que a incubação longa. Isso significa que a partir do momento em que a pessoa entra em contato com a bactéria, só vai ficar doente cerca de sete a oito anos após. A hanseníase se manifesta na pele pelo aparecimento de manchas brancas ou vermelhas e de lesões vermelhas altas denominadas placas ou infiltrações. Essas lesões se caracterizam por terem a perda da sensibilidade, porque a bactéria tem uma afinidade grande pelos nervos periféricos.

“A pessoa vai perder a sensibilidade das lesões. Além disso, pode apresentar sensação de nariz entupido, ardência nos olhos e ter dormência nas extremidades, ou seja, nas mãos e pés”, explicou.

Estigma

Sandra Durães explicou que havia muito estigma e preconceito contra a hanseníase no passado porque o tratamento não era tão eficaz. Na evolução da doença, o acometimento do nervo periférico faz com que a pessoa tenha alterações motoras e perca a noção de quente ou gelado, por exemplo.

“Ela vai se lesionar no ambiente, vai ter infecção na pele que pode se transmitir ao osso e pode haver perda de tecidos, como ocorria no passado”. Atualmente, isso é muito raro, porque o tratamento é eficaz.

O diagnóstico precoce é muito importante e crucial para o controle da doença, explicou Sandra. Se a pessoa procurar logo atendimento médico e tomar o antibiótico ela fica bem. Mas se o paciente deixa a hanseníase evoluir, os antibióticos não têm o poder de reverter o dano neural. As manchas vão diminuir, o doente não vai contaminar mais pessoas, a doença vai ficar estacionada, mas o dano neural que houve até aquele momento não será mais revertido. Essa pessoa vai exigir orientação e acompanhamento de uma equipe de neurologistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais para poder atuar no seu meio ambiente sem se lesionar para não ficar incapacitado.

“O ideal, disse a dermatologista, é que o diagnóstico seja feito em uma fase bem precoce em que ainda não haja o dano neural”. Com diagnóstico e tratamentos tardios, há risco de graves sequelas, como deformidades e incapacidades físicas irreversíveis.

Desconhecimento

As pessoas ainda têm grande desconhecimento da hanseníase, também conhecida como lepra. Daí o Ministério da Saúde promoveu a campanha Janeiro Roxo para chamar a atenção da população para o problema e informar que hoje o tratamento é supereficaz. Não há necessidade de a pessoa ficar reclusa, como ocorria com os antigos portadores de lepra, ou leprosos, que eram isolados compulsoriamente do restante da população.

Sandra Durães assegurou que a partir do momento em que a pessoa inicia o tratamento, tomando a primeira dose do antibiótico, ela praticamente deixa de ser contagiante. “As pessoas fazem o tratamento em casa, vão ao ambulatório uma vez por mês tomar medicamento e tomam outros remédios em casa”. O tratamento é gratuito e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o território nacional.

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