24/03/2022 às 09h00min - Atualizada em 24/03/2022 às 09h00min

Didi dos Cachorros resgata nas ruas da capital animais doentes e abandonados para doação

Atualmente, 55 cães são cuidados pelo o universitário

Rosa Borges / Redação Belem.com.br
"Didi dos Cachorros" veio do Maranhão para Belém num pau-de-arara e se dedica totalmente aos animais. (Foto: Carlos Eduardo Gaspar / Belem.com.br)


A história incrível de um homem que veio do Maranhão para Belém num pau-de-arara e se dedica totalmente aos animais

Clarion Martins é seu nome de batismo, mas ele é mesmo conhecido como “Didi dos Cachorros” e cuida hoje de 55 cães, que ele mesmo resgatou das ruas de Belém e abriga numa área central da cidade. Didi, que é muito parecido com o humorista global, mora numa casa com duas áreas externas. Em uma funciona “o hospital”, onde são tratados os vira-latas doentes, e a outra é a área que abriga os Pitbulls.

Segundo ele, o ideal seriam 30 cães, mas sua casa é que nem coração de mãe e ele não resiste, resgata os animais que precisam de ajuda sem pestanejar. “Já foram 80, mas quando comecei a fazer faculdade, tive que diminuir a quantidade”, relata.


O estudante universitário

Ele cursa o 5º semestre de Veterinária na Unama, diz que seu dia-a-dia é corrido em uma rotina na qual a maior parte do tempo é dedicada aos seus hóspedes ilustres, que ele batiza com nomes sugestivos.

“Esses nomes eu dou conforme a situação em que encontro o animal ou o local de onde eu faço o resgate”.
Em função disso, temos lá o “Boquinha”, que veio com a boca totalmente ferida, o “Alemão”, que possui um pelo marron brilhante, e o “Narco”, resgatado em frente ao prédio da Divisão de Narcóticos, no bairro do Telégrafo.

Didi acorda por volta de cinco e meia da manhã e estuda até seis e meia. “Depois disso, eles não me deixam mais estudar e vou cuidar da limpeza da casa e da alimentação deles. Saio pra passear com 10 ou 15 deles na carroça motorizada. Vou até a Praça da República, tomo o café e retorno”. As atividades do dia-a-dia incluem as visitas às casas de pessoas que o chamam para tratar de seus animais. “A gente faz um curativo, aplica uma vacina e por aí vai. Vou dando esse apoio aos que nos pedem pra fazer a medicação”, descreve.

À tarde ele faz uma peregrinação por cinco restaurantes do centro comercial para recolher sobras de alimentos. À noite, ele segue para a Faculdade, mas lá diz sofrer com a discriminação. “Ninguém quer estudar ou fazer trabalho com velho, então, eu geralmente faço meus trabalhos da faculdade sozinho mesmo. É um curso difícil, mas eu não desisto”, confirma. Segundo ele, a faculdade deu um desconto de 60% no valor das mensalidades, e os 40% quem paga são amigos que fazem uma coleta mensalmente. “Se não fosse isso, eu não teria como pagar a faculdade. É um curso caro.

Eu recebo somente um salário mínimo da aposentadoria”. Didi tem curso superior completo, é economista, mas nunca exerceu a profissão. Me formei em Economia nos anos 80, mas isso é pra gente rica, pobre não pode ser economista”, avalia.

Mais que uma paixão por animais, Didi afirma que é uma “loucura” o que lhe move diariamente para fazer o resgate e o tratamento dos cachorros, que após a castração, são disponibilizados para adoção. “Eu não vendo os animais. Eu resgato, cuido, mando castrar e ponho para adoção, pois eu quero saber quem vai levar, pra poder acompanhar e ver de perto como ele está sendo tratado”, revela.

Esse maranhense de 68 anos, veio sozinho para Belém, aos doze anos, num “pau-de-arara”, para encontrar uma tia que nunca conseguiu localizar. Para se manter e se alimentar, Didi passou a morar no Ve-o-Peso, onde trabalhava. Até que um dia uma senhora que fazia compras na feira do Ver-o-Peso pediu que ele fosse até sua casa para dar banho em seus cachorros. Desse contato com os animais, nasceu a relação de amor que dura até hoje.

A senhora que pediu para banhar seus animais adotou o menino e construiu um quarto para ele morar. Ele fica responsável por cuidar dos cães e essa tornou-se sua principal atividade. Ao falecer, a senhora deixou como herança a casa para Didi morar. Ele diz que já teve família, vivenciou dois relacionamentos, um deles durou 18 anos. Desses dois casamentos nasceram cinco filhos.

“Tenho dois filhos que me ajudam como podem, mas hoje vivo sozinho porque ninguém aguenta essa vida. Isso é coisa pra louco”, afirma.

Didi dos Cachorros avisa que já está preparando duas pessoas amigas que darão continuidade ao seu trabalho. “Já estou treinando duas pessoas, pra continuar com isso aqui. Só que eles não vão começar do zero como eu comecei. Eles vão contar com a estrutura que eu tenho aqui, depois que eu morrer”, prevê.

Um dos seus sonhos é escrever um livro. O título ele já tem: “As mil e uma desculpas para abandonar um animal”.
Ele se emociona ao falar de suas perdas. “Me dói quando não consigo ajudar na cura de um animal doente e ele acaba morrendo. Com alguns dias de convivência, a gente se apega e é dolorido ver ele partir”, descreve.


Serviço

Didi dos Cachorros recebe doações de qualquer valor por meio do Pix 047.803.292-72 (CPF). Contato: (91) 98765 9896.
 
 
 


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