05/10/2023 às 19h51min - Atualizada em 05/10/2023 às 19h51min

Santana do Araguaia se torna a primeira microrregião autorizada a plantar algodão no Pará

A liberação do cultivo foi divulgada no último dia 2 de outubro pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)

Gabriel Pires
Arquivo pessoal

Na semana em que se comemora o Dia Mundial do Algodão, em 7 de outubro, o município de Santana do Araguaia, localizado no sudeste do paraense, se tornou a primeira microrregião autorizada a plantar algodão no Pará — sendo uma decisão histórica para o estado. A liberação do cultivo foi divulgada em despacho publicado no último dia 2 de outubro pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) — órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação — no Diário Oficial da União. A partir de agora, a região tem a permissão para plantar algodão do tipo GM (geneticamente modificados) e OGM (organismos geneticamente modificados). 


A medida é resultado do trabalho da Associação de Produtores de Algodão do Pará (APAP), por meio do presidente da entidade, Marcos Moscon — que anteriormente já havia realizado um plantio experimental na fazenda da família, a partir de uma autorização pelos órgãos competentes. Com essa conquista, segundo Marcos, o objetivo é transformar a região em um polo de desenvolvimento econômico, cultural e social. Para ele, o momento é de muita felicidade. “Liberar a microrregião de Santana do Araguaia significa que colocamos essa microrregião no mapa de locais liberados para o cultivo do Brasil de maneira séria, segura e com respeito à biossegurança”, diz.


“Conquistar essa liberação significa que a nossa associação seguiu todos os procedimentos dos estudos técnicos e requisitos legais. E que os estudos comprovaram que o plantio OGM/GM não trará nenhum risco para o meio ambiente e para a biossegurança. Eu, Marcos, toda a minha família e a APAP ficamos muito felizes com a conquista, porque sempre tivemos essa preocupação em nos pautarmos em um desenvolvimento ambientalmente sustentável. Inclusive, a APAP já está pensando em um projeto social, que visa capacitar mulheres a fazerem artesanato com a fibrilha, capulho e pluma do algodão, como é feito no nordeste do país”, afirma Marcos.


Marcos explica, ainda, de que forma a liberação ocorre: “Acredito que, no ano de 2002, foram criadas as zonas de exclusão do plantio de algodão GM e OGM. O procedimento segue o mesmo. Naquele momento, todo o Brasil esteve proibido de plantar algodão OGM/GM. Apenas as regiões em que o procedimento de liberação, fundado em muitos estudos sérios, científicos e produzidos por órgãos de renome, eram liberadas e retiradas da zona de exclusão. Então, para uma região ser liberada, é preciso comprovar que o algodão OGM não trará risco para a planta preservada, bem como nenhum dano ao meio ambiente”.


Desenvolvimento social

O projeto social, como pontua o presidente da APAP, pode trazer ganhos significativos para os moradores de Santana do Araguaia: “Isso pode ajudar famílias de baixa renda a produzirem artesanatos que são nacional e internacionalmente requisitados, trazendo, também, um maior desenvolvimento para a população como um todo. O foco principal é começar com estes projetos sociais no distrito de barreira de campos, que poderá ter outros focos de renda fora da época do veraneio. O algodão OGM transforma regiões pequenas em regiões de desenvolvimento econômico, porque traz um novo setor para a região, desde o plantio, à industrialização do algodão e, até mesmo, o desenvolvimento social”, destaca.


Além disso, a liberação do plantio na região paraense traz diversos ganhos sociais e econômicos. “A permissão do cultivo do algodoeiro GM contribuirá para elevar a produtividade da cultura no país e fortalecerá o agronegócio na região, gerando renda e emprego, visto que os cultivares Geneticamente Modificados são uma boa opção para substituir o algodão convencional. A cultura convencional não só tem muito mais despesas, o que reduz a atratividade, como também implica em um uso muito maior de agrotóxicos, assim como em um maior risco para atrair pragas não comuns à região. E grande parte das cultivares de algodão GM, inclusive, são resistentes a estas pragas e doenças”, frisa.


“A permissão também trará a possibilidade do uso do caroço de algodão, usado para atender à demanda utilizada nos confinamentos da microrregião, nas rações oferecidas ao rebanho. Com a liberação do cultivo do algodão, pode-se suprir a demanda interna de caroço de algodão, utilizado na pecuária, e ajudaria a microrregião que vem sofrendo com a redução de pastagens e alimentação animal”. Segundo ele, isso “ajudará não só a microrregião, como a região com um todo, a competir com igualdade com as regiões de estados vizinhos no quesito preço e qualidade na engorda de rebanhos, tornando a região mais forte e atraindo mais confinamentos”, declara Marcos.


Viabilidade

A trajetória para a liberação da prática algodoeira iniciou há 4 anos, como lembra Marcos. Ele conta que tudo isso começou com um processo para entender e avaliar a viabilidade do cultivo de algodão na região — dada a complexidade técnica envolvida, incluindo requisitos meteorológicos, condições de solo e expertise técnica. Após realizar um plantio experimental bem-sucedido, foi confirmado, então, que a área atendia aos requisitos técnicos necessários. A ideia em concretizar a produção de algodão no Pará, segundo Marcos, surgiu com o objetivo de não deixar a microrregião paraense fora do foco de desenvolvimento.


“Depois disso, precisamos abrir uma associação para ser possível o pedido da liberação. Superada esta fase, era necessário conseguir recursos para bancar os estudos técnicos necessários. É necessário agradecer aos pesquisadores Valdinei Sofiatti, Lúcia Vieira Hoffman e Nair Helena Castro Arriel, que desenvolveram um estudo técnico incontestável. Depois, passamos por todos os procedimentos legais de liberação. E, finalmente, esta semana, alcançamos a sonhada liberação da microrregião. Agora, pretendo iniciar uma nova fase de estudos. Quero analisar quais os melhores cultivares para a região, assim como estruturar, para que o desenvolvimento siga de maneira sustentável”, celebra.


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