27/07/2023 às 09h06min - Atualizada em 27/07/2023 às 09h06min

Clima deve mudar preços de alimentos no segundo semestre

De acordo com entidades de pesquisa e representação de classe, algumas hortalicas podem ficar com preços menores a partir de agora

com edição da Redação Belem.com.br
O Liberal
Reprodução
O fim do chamado inverno amazônico pode resultar na queda dos preços de alimentos para a população paraense. Diferente do que acontece em boa parte do país, a segunda metade do ano é de menos chuva na região, o que faz as safras serem diferentes das de outros estados.

Por exemplo, a estimativa do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese-PA) é de que caiam os custos do açaí, da farinha de mandioca e do pescado, enquanto a Associação Paraense de Supermercados (Aspas) adianta que as folhagens devem ficar mais baratas a partir de agora.

Segundo o supervisor técnico do Dieese-PA, Everson Costa, quando o Estado entra no período chuvoso, no primeiro semestre, existe uma interferência direta no custo dos produtos, que acabam ficando mais elevados na entressafra. Agora, com a mudança de clima, esses preços ficam mais baixos, porque começa a fase de colheita e oferta dos produtos em maior quantidade e qualidade - alguns deles são o açaí e a farinha de mandioca.

“No caso da farinha, a gente começou a sentir essas quedas agora, mais recentemente, nas pesquisas do mês de julho, tanto que se olhar o primeiro semestre deste ano o produto fechou em forte alta. No caso do açaí, já começou a cair um pouquinho antes. A gente tem outros produtos, mas eu estou colocando esses dois porque eles têm uma relação direta com a questão do período chuvoso. Além disso, o nosso pescado também tem uma influência forte das chuvas, porque elas interferem em rios, marés e, automaticamente, em algumas espécies. E o nosso pescado também está em queda”, diz.

Everson afirma que as retrações continuarão acontecendo pelo menos até próximo do final do ano, quando, geralmente, a intensidade das chuvas muda novamente e o cenário se altera. No cotidiano do paraense, a variação de preços é mais visível em feiras e nos supermercados quando se compra produtos locais, declara.

Supermercados e Ceasa

Outro tipo de produto alimentício que pode ser impactado são as folhagens locais, como cheiro verde, alface, couve, cariru e jambu, que devem ficar mais baratas. É o que diz o presidente da Aspas, Jorge Portugal. “Na parte de alimentos existe muito a questão sazonal, especificamente o período em que as coisas aumentam é na chuva. Aqui, quando se fala em folhagem, é a produção local, que tende a aumentar de preço no primeiro semestre. E agora nesse período pós-chuva há melhora na qualidade e nos custos”, adianta.

Em relação ao clima do restante do Brasil, embora haja impacto local, já que muitos itens são importados de outros estados, ainda não é possível prever o que ficará mais caro ou barato, de acordo com Portugal. “Tomate, cebola, batata, não temos produção, são importados. Mas é uma incógnita. Onde tem produção grande de tomate, se der uma geada, vai comprometer a produção e aumentar o preço. A mesma coisa o trigo, que tem no Rio Grande de Sul, se der uma chuva que comprometa a produção vai aumentar o preço”, explica.

Já o diretor técnico da Central de Abastecimento do Pará (Ceasa-PA), Denivaldo Pinheiro, diz que, embora cerca de 80% dos produtos comercializados no entreposto atacadista sejam oriundos de outros estados e apenas 20% do que é comercializado venha da produção paraense - dados do Sistema de Abastecimento e Comercialização da Ceasa-PA (Sisconab) -, alguns itens sofrem a influência do clima, como frutas e hortaliças. Entre elas estão a laranja pêra, limão tahiti, abacaxi, mamão havaí, banana, coentro, cebolinha, jambu, abóbora e outros.

“Esses produtos têm tendência de sofrer uma maior variação de preço no segundo semestre, porém, é sempre importante ressaltar que o mercado tem sua dinâmica própria de comercialização e por vezes os preços praticados no mercado atacadista contrariam a chamada lógica de mercado quando se trata de oferta e demanda”, comenta.

Impacto local

Como os alimentos consumidos internamente vêm, em grande parte, de fora, o clima nos outros estados do Brasil impacta diretamente nos preços praticados no mercado de hortifrutigranjeiros. Denivaldo lembra que os estados das regiões Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), Sudeste (São Paulo e Minas Gerais) e Nordeste (Bahia, Pernambuco e Ceará) são os principais fornecedores de produtos hortifrutigranjeiros comercializados na Ceasa e, uma vez que ocorre uma mudança no clima nessas regiões, os preços refletem diretamente no comércio local.

Mesmo parecendo contraditório, é no segundo semestre do ano que são registrados os maiores volumes de vendas no mercado paraense. É o que aponta o estudo ''Análise de Sazonalidade de Preços de Produtos Hortícolas comercializados na Ceasa-PA''. Segundo o levantamento, apesar das mudanças de clima em outros estados, os produtos importados são os mais comercializados localmente no entreposto, com destaque para a batata inglesa, cebola, cenoura, tomate, repolho, banana prata, melancia e abacaxi.

Neste ano, há um fenômeno diferente previsto: o “Super El Niño”, que provoca o aquecimento das temperaturas em até 2,5ºC em alguns locais do mundo e pode causar secas e chuvas em excesso. O diretor técnico da Ceasa-PA já espera impactos no mercado local por conta da mudança climática. Ele diz que o fenômeno pode impactar tanto no preço como no abastecimento de produtos.

“Os impactos do clima causam secas no Norte e Nordeste do país (chuvas abaixo da média), principalmente nas regiões mais equatoriais; e provocam chuvas excessivas no Sul e Sudeste do país. Portanto, como 80% dos produtos comercializados por aqui vêm exatamente dos estados dessas regiões mais impactadas pelo fenômeno do El Niño, podemos inferir que isso interferirá no volume e preços de alguns produtos que abastecem a região metropolitana de Belém”, argumenta o especialista.
 

 

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