28/08/2023 às 08h39min - Atualizada em 28/08/2023 às 08h39min

Psicólogos conduzem políticas de reinserção social dos internos do sistema penal

Profissional relata os desafios do trabalho entre os encarcerados

com edição da Redação Belem.com.br
Agência Pará
Divulgação
A psicologia estuda o comportamento humano, e suas interações com o mundo à sua volta, por este motivo pode influenciar as relações de consumo, a comunicação de massa, as pesquisas de opinião, por exemplo. 

Com o passar do tempo a psicologia busca novas formas de atuação profissional, e avança em novas áreas do conhecimento e de atuação, nesse contexto a atuação deste profissional dentro das unidades penitenciárias tem um papel fundamental durante a custódia dos internos. 

Marcos Alemplanque atua como psicólogo da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) há mais de três anos. Segundo ele, a escolha profissional foi carregada de significados subjetivos e outros fatores intrínsecos e extrínsecos, mas o principal objetivo era ajudar pessoas com transtornos mentais.

“No momento em que escolhi iniciar a graduação em psicologia havia o desejo de realização pessoal pela idealização de ajudar as pessoas que sofrem de transtornos mentais, porém essa idealização foi se dissolvendo à medida que fui me submetendo ao processo de terapia no início do curso. Esse processo terapêutico mostrou que as técnicas funcionam e vão além de tratar transtornos mentais, mas conduzir o sujeito a lidar com sua angústia e sustentar seu desejo”, conta.

A curiosidade pela psicologia no cárcere veio ainda durante a graduação, inspirado pelas experiências de um professor, porém, com a não renovação do vínculo entre a instituição superior de ensino e o sistema prisional, Marcos não conseguiu fazer o estágio no sistema. A oportunidade só veio quando o psicólogo soube do concurso público da Secretaria, a aprovação transformou o interesse despertado enquanto estudante em realidade profissional.

Obstáculos

A psicologia tem uma série de dispositivos e tecnologias para avaliação e diagnóstico, isso serve para qualquer pessoa. Dentro das unidades penais também é usado para a condução de políticas públicas voltadas para a reinserção social. 

Os desafios emocionais e psicológicos enfrentados pelos profissionais passam também pela individualização dos internos. “Cada pessoa que se encontra no sistema prisional, tem um nome, uma história, uma particularidade com referência ao que a levou estar privada de liberdade. O acolhimento e escuta tornam-se importantes instrumentos que resgatam essa narrativa pessoal. A possibilidade de dar sentido e de alguma forma se reconhecer nos fatores que culminaram na passagem pelo sistema prisional age sobre o sofrimento psíquico,” diz o profissional. 

O contexto de trabalho exige posicionamento subjetivo e Alemplanque esclarece que o desafio das trabalhadoras e trabalhadores da psicologia é dosar o afastamento simbólico de sua pessoa e de sua atuação profissional.  

“Para superar esses impasses são necessários planejamentos de treinamento e desenvolvimento que capacitem as equipes de trabalho para a dissolução da cultura organizacional de caráter punitivo, ou seja, estruturada para coagir, dando lugar à conciliação e colaboração mútuas. Tem sido um desafio contínuo manter o meu desejo na atuação, mas meus colegas de profissão estão empenhados em fazer avançar o trabalho no sistema prisional com compromisso e ética”, diz ele.

Terapia

A psicoterapia não é usada somente em casos de transtornos mentais, mas qualquer pessoa que tenha algo a dizer sobre a sua angústia pode ser beneficiada. “A psicoterapia não se contenta com ações que promovam ideia do homem cordial, que seja passivo e submisso na construção de sua história, mas que possa levantar questionamentos e pensar seu protagonismo enquanto sujeito, se desidentificar com antigos papeis sociais e construir laços sociais mais duráveis”, afirma o psicólogo. 

Após o cárcere, o interno, ao voltar para a sociedade, precisa lidar com novas situações, nesse sentido, a autoestima e a autodescoberta precisam ser desejadas. “Despertar o desejo é como acender uma fogueira na escuridão que ao menos nos faz ter uma ideia de onde estamos. A pessoa que passa muito tempo encarcerada irá se deparar com muitas novidades, logo a saída ocasiona angústia, mas também possibilidade de realização de desejo”, explica Alemplanque, ao detalhar a importância da profissão para os internos do sistema penitenciário. 
 

 

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